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Sobre mudar o mundo





"Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética", disse uma vez um barbudo.

Como nisso sou coerente, claro que eu quero mudar o mundo. Já achei que seria líder de algum grande movimento, já pensei que seria presidente do Brasil. 

Hoje, mais madura e mais consciente do meu papel no mundo, quero uma missão talvez ainda maior e mais difícil, quero ser escritora e professora. 

Confesso, quando pego meu computador e começo a me desmanchar em palavras, já não tenho nenhuma revolução em mente, tenho apenas pequenas ondas de movimentação humana. 

Quando escolho e aceito, que também nisso tem imposição do dom, mexer com essas duas coisas delicadas: Palavra e gente, não penso mais naquela velha ideia infantil de ser presidente. 

É inevitável ver o sangue ferver, as lágrimas chegarem aos olhos, de ter no corpo e na alma todos os machucados que as pessoas nas ruas estão sofrendo. 

Essa causa é particular e coletiva, é universal e pessoal. 

Pego ônibus terríveis todos os dias para ir à faculdade pública, me formar em letras e ser professora. Como todos os brasileiros, encaro todos os dias a violência, a espera, o medo, a falta de qualidade, a exploração para um dia ser alguém que pretende mudar vidas.

Não vou à manifestação hoje porque estarei trabalhando, lidando com as duas ferramentas de movimentação do mundo: O verbo e quem o diz. 

De coração apertado por todos os que estarão lutando pelos nossos direitos, só sossego com a certeza de que eu também estou nessa batalha. 

Dessa vez, ao falar de literatura para outros jovens essa tarde, e quando escrevo essas palavras para vocês, tenho de novo a revolução em mente. 

Mas agora já sei, não vou mudar o mundo, espero mudar as pessoas.

Fonte: http://www.cidadeverde.com/blogdaclara/

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